
A Psicanálise nasceu da escuta do inconsciente e da investigação das forças invisíveis que determinam pensamentos, desejos e comportamentos.
Com o passar do tempo, essa ciência da alma ampliou-se — e hoje, em diálogo com o pensamento transpessoal, reconhece que o psiquismo humano é multidimensional, expressando-se não apenas na mente, mas em diferentes campos sutis de energia e consciência.
Assim como o aparelho psíquico freudiano se organiza em instâncias e sistemas (Id, Ego e Superego), os sete corpos representam níveis de expressão da psique — desde o mais denso e instintivo até o mais sutil e espiritual.
Ambos descrevem um mesmo fenômeno: a estrutura invisível que organiza a experiência humana e dá forma à subjetividade.
O corpo físico é o terreno onde as pulsões encontram expressão.
Aqui habitam os impulsos vitais e instintivos descritos por Freud — o domínio do Id, fonte das necessidades básicas, desejos, prazer e sobrevivência.
O corpo manifesta o inconsciente por meio dos sintomas, dos gestos, das tensões e das doenças psicossomáticas.
Na psicanálise, é o palco do retorno do recalcado; na visão transpessoal, é o templo da encarnação da alma.
“O inconsciente fala através do corpo antes de ser ouvido pela mente.”
O corpo etérico é o campo sutil que vitaliza o corpo físico.
Ele se correlaciona com as funções do Ego, que atua como mediador entre as forças do inconsciente e o mundo externo.
Assim como o Ego busca equilíbrio entre instinto e realidade, o corpo etérico regula o fluxo energético entre o interior e o exterior, mantendo o organismo em homeostase.
É o campo da vitalidade, das defesas e das resistências psíquicas.
O Ego, assim como o corpo etérico, protege, regula e mantém a coesão da identidade.
O corpo emocional abriga os conteúdos afetivos e as memórias de dor, amor, raiva, carência e prazer.
É aqui que atuam as forças inconscientes ligadas ao recalcamento e à transferência, mecanismos centrais da psicanálise.
As emoções não expressas tornam-se sintomas; as emoções elaboradas tornam-se consciência.
No plano energético, o corpo emocional é o “território intermediário” entre o instinto e a mente, onde a alma humana aprende a sentir, reconhecer e purificar-se.
O que não é sentido, adoece. O que é acolhido, transforma-se.
O corpo mental é o domínio do pensamento, das ideias, das crenças e das imagens psíquicas.
É nele que se formam as representações mentais descritas por Freud e os arquétipos simbólicos explorados por Jung.
O Superego encontra nesse nível sua correspondência, representando as estruturas morais, os ideais e as vozes internalizadas que guiam (ou aprisionam) o sujeito.
A mente pode ser um cárcere ou um instrumento de libertação — dependendo do grau de consciência que a ilumina.
A mente cria realidades — a consciência as transcende.
O corpo causal guarda as memórias de experiências e padrões repetitivos que estruturam o inconsciente profundo.
Na psicanálise, é o campo das fixações, repetições e transferências; na visão transpessoal, é o registro energético das causas que geram efeitos — a matriz onde os complexos se formam e se perpetuam.
Trabalhar nesse nível é acessar o inconsciente arcaico e transformar o destino em escolha consciente.
O que chamamos de destino é, muitas vezes, a repetição inconsciente do não resolvido.
O corpo intuitivo corresponde ao inconsciente coletivo de Jung, ao domínio onde a alma humana toca o universal.
É a morada da empatia, da sabedoria e da intuição superior — uma percepção direta que vai além do pensamento lógico.
Neste nível, o analista e o analisando compartilham um campo simbólico, uma comunhão silenciosa onde o sentido emerge sem palavras.
É o espaço da escuta profunda, onde a psicanálise se torna arte e presença.
A verdadeira escuta é aquela que ouve o que o outro ainda não sabe que sente.
O corpo espiritual é a instância mais elevada da consciência, análoga ao conceito junguiano de Self — o centro organizador e totalizante da psique.
É o ponto de convergência de todas as partes, a consciência que observa e transcende o ego, o inconsciente e o tempo.
Neste nível, a análise se transforma em integração da alma, e o terapeuta torna-se um facilitador do despertar da consciência.
O Self é o Sol interno, fonte de luz que organiza o universo psíquico e espiritual.
Os sete corpos e o aparelho psíquico são mapas complementares de uma mesma realidade: o mistério da consciência humana.
Enquanto a psicanálise revela os mecanismos da mente e do desejo, a visão transpessoal amplia essa compreensão para os níveis sutis do ser.
Ambas convergem na mesma direção: integrar o inconsciente à consciência, e a personalidade à sua essência.
“Conhecer-se é descer ao inconsciente e ascender à consciência — é unir o que está separado, até que o ser se reconheça inteiro.”
— Ricardo Dih Ribeiro