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HOMÚNCULO CORTICAL: COMO NOSSO CÉREBRO VÊ NOSSO CORPO

Ricardo Dih Ribeiro

26/10/2021 20:06:39


Se você olhar no espelho, verá como seu corpo se parece por fora. O homúnculo cortical, por outro lado, representa a forma como nosso cérebro vê nosso corpo a partir do interior.

Na década de 1930, o neurocirurgião Wilder Penfield operou pacientes com epilepsia. Já que tinha a sua disposição um cérebro vivo na mesa cirúrgica, ele aproveitou para “bisbilhotar” um pouco.

O médico levantou dados a fim de descobrir quais partes do córtex cerebral controlavam quais movimentos corporais voluntários e sentimentos. O que ele descobriu foi uma visão muito distorcida do corpo humano: o homúnculo cortical.

O homúnculo cortical representa a importância de várias partes do seu corpo, determinadas pelo seu cérebro.

Por exemplo, há pouca necessidade para o cérebro de saber o que está acontecendo nos braços e pernas. Tudo que esses membros precisam fazer é ficar longe do fogo e colocar as mãos e os pés nos lugares certos.

As mãos, a língua, os órgãos genitais e as características faciais são extremamente importantes, pois dão às pessoas uma tonelada de informações sensoriais. Como resultado, elas ocupam muito espaço no cérebro.

Contribuição além do superficial

Embora o homúnculo cortical seja uma curiosidade, o trabalho de Penfield em mapear a relação do cérebro para o corpo foi inestimável.

Formado na Universidade de Princeton, ele passou por anos de treinamento na Universidade de Oxford, na Espanha, na Alemanha e em Nova York (EUA), antes de se tornar o primeiro neurocirurgião em Montreal, Canadá.

Na década de 1950, Penfield buscava tratar pacientes com epilepsia de difícil controle. Antes de um ataque epiléptico, ele sabia que os pacientes experimentavam uma “aura”, um aviso de que o ataque está prestes a ocorrer.

Penfield testou se poderia provocar esta aura com uma leve corrente elétrica no cérebro, para localizar e destruir ou remover a fonte da atividade. Enquanto os pacientes estavam plenamente conscientes, embora anestesiados, ele abriu seus crânios e tentou localizar a origem de sua epilepsia.

Sua técnica foi muitas vezes bem sucedida, mas as cirurgias experimentais levaram a uma descoberta ainda mais dramática.

A estimulação em qualquer parte do córtex cerebral trouxe respostas de um tipo ou outro, e ele descobriu que só estimulando os lobos temporais (as partes mais baixas do cérebro de cada lado) que ele poderia obter respostas significativas e integradas, como a memória, incluindo som, movimento e cor.

Essas lembranças eram muito mais distintas do que a memória comum, e eram muitas vezes sobre coisas que não lembramos em circunstâncias normais. No entanto, se Penfield estimulava a mesma área novamente, exatamente a mesma memória aparecia – uma determinada canção, a vista de uma janela infância, etc -, ou seja, uma base física para a memória.

Ele acabou desenvolveu um mapa do cérebro, muitas vezes retratado como um desenho animado chamado homúnculo motor ou cortical (o ser humano em miniatura), com características desenhadas de acordo com a quantidade de espaço que ocupam no cérebro.

O homúnculo

O local no nosso cérebro onde toda a informação sensitiva é processada e tornada consciente se chama córtex somatossensorial primário.

O que é fascinante nesta área cerebral é a distribuição topográfica dos territórios sensoriais, cuja área ocupada é diretamente proporcional ao maior ou menor grau de sensibilidade a um estímulo nesse território. Não é de se estranhar a larga extensão das zonas corticais relacionadas com a sensibilidade a nível da face, mãos, dedos, lábios, língua, etc.

O córtex motor primário, localizado no giro pré-central, obedece à mesma lógica de representação topográfica, onde a área cortical é tão maior quanto maior for o grau de movimento que o respectivo território anatômico proporciona.

Esta diferença é particularmente gritante quando analisamos a extensão da zona cortical responsável pelos movimentos finos da mão, dedos e músculos da face, que representam praticamente 3/4 do córtex motor primário.

FONTE E CRÉDITOS

Homúnculo cortical: como nosso cérebro vê nosso corpo

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