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VOCÊ ESTÁ AMADURECENDO OU APENAS FICANDO VELHO?

Ricardo Dih Ribeiro

11/10/2021 19:35:47

O envelhecimento é um processo natural que envolve um conjunto de fatores denominados sociais, biológicos, psíquicos e ambientais que estão intimamente relacionados e que podem acelerar ou retardar esse processo.  

No Brasil, o tempo médio de vida de uma pessoa já ultrapassa os 70 anos, reflexo da queda brusca e rápida da taxa de mortalidade com a introdução dos antibióticos e da vacinação, a melhora no saneamento básico e no sistema de saúde pública em comparação com dados de 40 anos atrás.

Devido a essa grande mudança, a problemática do idoso no Brasil se tornou um desafio para a Saúde Pública, que exige uma ação imediata no sentido de diminuir as desigualdades e dificuldades tanto sociais quanto de saúde da população.

Nesse período da vida, pode ocorrer uma alta incidência de doenças não transmissíveis como artrose, osteoporose, síndromes degenerativas como Parkinson e Alzheimer, perdas da memória, declínio sensorial (audição, visão), sintomas depressivos, acidentes e isolamento social. Mas é preciso observar que envelhecer não é sinônimo de adoecer mesmo com o aumento de probabilidades de surgimento de doenças. Prova disso é que quando o indivíduo desde cedo garante melhor qualidade de vida com a adoção de hábitos saudáveis que atendam as suas necessidades físicas, mentais e emocionais, diminui em muito o risco do aparecimento de doenças.

Os hábitos saudáveis vão desde as atividades físicas como caminhada, natação, hidroginástica e yoga até as atividades sociais em centros de convivência. Indo mais longe, se um indivíduo consegue viver sua vida de maneira equilibrada, sensata e responsável, se sabe cultivar a espiritualidade, a confiança e a solidariedade, provavelmente diminuirá em muito o número de frustrações que em outra situação poderiam desencadear adoecimentos psicoafetivos.

As frustrações reincidentes interferem na qualidade de vida e predispõem o indivíduo a desenvolver a depressão. Dentre esses agentes, podemos citar a falta de realizações pessoais ou repetidos episódios de fracassos e perdas – do companheiro, dos laços afetivos familiares; da capacidade produtiva e a dificuldade de reengajamento profissional; o abandono; o isolamento social e a redução dos recursos econômicos como resultado da aposentadoria.

É sabido que depois da aposentadoria, uma grande porcentagem de idosos se depara com o ócio, com a sensação de inutilidade. Isso pode gerar crise de identidade afetando a autoestima positiva e a aceitação de si mesmo. Em seguida pode haver uma piora na qualidade dos relacionamentos interpessoais e dos vínculos afetivos do grupo familiar.

Com o aumento do tempo livre, o idoso também pode ser ver vítima dos estereótipos sociais, dos rótulos que o afligem e nomeiam como improdutivo e decadente à medida que avança na idade.

Idosos deprimidos costumam se mostrar insatisfeitos com praticamente tudo, reflexo da frustração pela interrupção em seus estilos de vida e redução de seu nível socioeconômico quando ficam impossibilitados de trabalhar. Além disso, pode ocorrer privação das relações interpessoais devido ao isolamento. E ainda citamos casos em que idosos diminuem suas expectativas de vida, seja por suicídio ou por doenças somáticas relacionadas ao enfraquecimento generalizado devido ao desinteresse ou à negação de se alimentar ou medicar, à resistência a práticas de atividades físicas e de lazer.

Normalmente, as pessoas planejam suas vidas até chegarem à fase adulta. Decidem estudar, trabalhar, se casar, ter filhos, comprar uma casa e se aposentar. Depois que alcançam tudo isso, muitas delas se vêem diante da dúvida sobre o que fazer de si mesmas. É nessas horas que percebemos que garantir um “bom” envelhecimento envolve muito mais do que pagar o INSS anos a fio para garantir o salário de aposentadoria no final do mês.  É preciso planejar o envelhecimento com o mesmo cuidado com que planejamos o que veio antes. É necessário investir na autoestima, na relação que cada um tem consigo mesmo e com a sua família.  

A depressão é a doença mais comum entre os idosos e freqüentemente ocorre sem diagnóstico ou tratamento. Antes de rotular os velhos de ranzinzas, resmungões ou mal humorados, é importante investigar se eles se comportam dessa maneira em conseqüência dessa enfermidade. Ela afeta totalmente a funcionalidade do organismo, compromete a qualidade das relações com as pessoas e pode atingir níveis mais graves como as tendências suicidas.

Por tudo isso, é muito importante que antes de se tornar idosa, a pessoa planeje e adote um estilo de vida favorável à boa vivência da terceira idade. É interessante que o idoso frequente centros de convivência para a prática de atividades físicas e cognitivas para a manutenção da saúde e dos laços sociais. Consulltas periódicas para avaliação médica também são muito importantes. E por fim, a presença e assistência da família é essencial para garantir a qualidade afetiva na vida do idoso numa fase em que nem sempre dispõe de condições para se cuidar sozinho e que se depara com a necessidade de se preparar para o fim de sua existência, algo que para muitos pode ser assustador.

Por Morgana Valente

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